Prison Break (2005-9)


Prison Break (Fuga da Prisão), cr. Paul Scheuring. EUA, 2005-9. HDTV (Fox), 4 temps., 81 eps., 44 min. cada.

Na genealogia dos filmes sobre fugas da prisão encontramos obras tão diversas como Fugiu um Condenado à Morte (Un condamné à mort s'est échappé ou Le vent souffle où il veut, 1956), A Grande Evasão (The Great Escape, 1963), Os Fugitivos de Alcatraz (Escape from Alcatraz, 1979), e mais recentemente, Os Condenados de Shawshank (The Shawshank Redemption, 1994). Séries como Oz (1997-2003) já tinham mostrado como a televisão podia explorar o quotidiano de um estabelecimento prisional. Mas o conceito de Prison Break (2005-9) não parecia muito adequado para uma ficção aberta e em episódios. Talvez fosse mais apropriado para uma mini-série. Lincoln Burrows (Dominic Purcell) foi falsamente acusado de ter morto o irmão da vice-presidente. O seu irmão, Michael Scofield (Wentworth Miller), planeia a sua própria condenação para tentar fugir com ele antes que a pena de morte seja executada. Consta que esta ideia foi repetidamente rejeitada como projecto, devido às presumíveis limitações para ser desenvolvida ao longo de vários anos. A história tem características clássicas, com pelo menos dois objectivos — a libertação de Lincoln e a prova da sua inocência — e um limite temporal para o seu cumprimento — a data da execução. A duração é dilatada, de episódio para episódio, menos para o desenvolvimento dramático das personagens e mais para a criação de momentos de suspense. Estes momentos vão sucessivamente suspendendo a progressão narrativa e adiando o seu termo. A série assemelha-se conceptualmente à música do genérico, escrita pelo compositor alemão Ramin Djawadi: um intrigante som seco, em eco, sobre um canto ininterrupto e depois uma sucessão de andamentos galopantes até às serenas notas finais. Não se trata de proporcionar surpresas — embora existam algumas, claro, sobretudo quando novos obstáculos são introduzidos. Trata-se antes da opção por um suspense verdadeiramente “hitchcockiano”: o espectador dispõe de informações que por vezes escapam às personagens e acompanha as cenas em tensão até ao seu desfecho. Prison Break cativa e renova o interesse da audiência ao criar cliffhangers, finais emocionantes com um desenlace imprevisível. Os últimos minutos de cada capítulo normalmente estabelecem o enredo do próximo e terminam com uma situação de resolução urgente. O seguinte recupera o final do anterior e dá-lhe uma conclusão. Assim se perpetua o desejo do público, através do mesmo anseio que levava as pessoas a voltarem às salas para mais uma parte de um dos filmes mudos em série. O crítico de arte americano Lawrence Alloway defendeu que as grandes obras de arte popular moderna privilegiam a experiência directa e a intensidade do primeiro contacto. Isto parece aplicar-se perfeitamente a Prison Break, embora os efeitos do suspense da mesma cena possam ser repetidos e revitalizados — um paradoxo muito estudado. Mas reconhecer a maior importância do suspense não quer dizer que a organização dramática seja irrelevante ou até exterior à ansiedade procurada pela série. Scofield, o engenheiro de estruturas responsável pelo traçado da prisão, tem a determinação escrita e desenhada na sua pele mapeada e plena de informações cruciais. Ele sabe que as suas acções vão ter ramificações e envolver outras pessoas. A primeira temporada esteve quase sempre confinada à prisão, com as tramas legais e políticas secundárias a desenrolarem-se fora dos seus muros, e concentrou-se no planeamento e execução da fuga. Depois da evasão, a avaliação das escolhas morais tornou-se essencial para Scofield e para as outras personagens. Este juízo abrange a sua relação com os amigos que foi perdendo, a advogada Veronica (Robin Tunney), com as pessoas por quem ganhou afecto, a médica prisional Sara (Sarah Wayne Callies), e também com os outros fugitivos, cada um com a sua história. De facto, a segunda temporada centra-se no improviso e manutenção da fuga com linhas narrativas paralelas e algumas intercessões. Esta fragmentação prova que Prison Break soube mudar a sua estrutura. A terceira e quartas temporadas são tão distintas das anteriores como as duas primeiras foram entre si. A terceira centra-se numa nova tentativa de fuga de uma prisão no Panamá, com uma estrutura e uma vida muito diferentes do primeiro estabelecimento prisional. A quarta e última fecha as linhas narrativas abertas ao longo da série, da conspiração governamental às alianças e traições. [01.11.2007]