The Greatest Story Ever Told (1965)


A Maior História de Todos os Tempos, real. George Stevens [David Lean e Jean Negulesco]. EUA, 1965. 35mm, 70mm, cor, 199 min.

Grave e longa encenação da vida de Jesus, do nascimento à crucificação. Todos os gestos e palavras assumem o peso de uma história fundadora intocável, que só pode ser evocada. Portanto, a fidelidade às Sagradas Escrituras é um eufemismo. Porque considerar esta história e estas mensagens como intemporais e universais não dispensa as ideias sobre como as apresentar num tempo e num universo. O cinema torna-se assim num meio de ilustração destes episódios. A realização de George Stevens priveligia a autonomia das cenas, definindo quadros, e sublinhando-o através das abóbadas que abrem e fecham o filme. Assim se arrisca alguma falta de matéria humana, sem a qual esta narrativa perde ressonância e significado; embora haja alguma intensidade dramática no início, nas poucas cenas dirigidas por David Lean. À expressividade de Max von Sydow é contraposta uma sucessão de imagens espectaculares, deslumbrantes exercícios técnicos no largíssimo Ultra Panavision 70 mm, cuja riqueza de pormenor e de escala exigem uma sala grande. Os cenários, a direcção artística, o guarda-roupa, conjugam-se para criarem figuras e devem mais ao imaginário dos cartazes publicitários e cartões de boas-festas americanos do que à memória do dinamismo da arte sacra mais vital. São imagens que se querem paralisar e eternizar. Eis como o movimento da fé, o acolhimento da revelação de Deus, inscritas nas realidades e acontecimentos do mundo, vão escapando a esta obra. [09.01.2010, orig. 07.2003]