Harold & Kumar Escape from Guantanamo Bay (2008)


Grande Moca, Meu! A Fuga, real. Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg. EUA, 2008. 35mm, cor, 107 min.

O primeiro filme era uma odisseia de dois rapazes, Harold (John Cho) e Kumar (Kal Penn), de etnias minoritárias, coreana e indiana, a viverem o sonho americano — isto é, a procurarem a inclusão e a ligação a uma ideia. Que o contentamento deles estivesse nos pequenos hamburgers do restaurante White Castle, não altera o que sustenta a sua busca e perseverança — a sua individualidade. O novo tomo começa praticamente onde o outro tinha terminado. Desta vez, viajam até Amesterdão, Holanda, terra onde a erva e a prostituição são legais e onde está a rapariga a quem Harold declarou o seu amor no primeiro filme. Esta é também uma história de amor, desta vez envolvendo Kumar. Mas é de novo uma história cheia de desvios que acabam por ser fundamentais. A confusão que os atira para a prisão de Guatanamo expõe, numa delirante sátira que até inclui George W. Bush, as repercussões sociais, políticas, e legais que o 11 de Setembro teve nos EUA. O humor é por vezes grosseiro, mas nem por isso menos certeiro: numa cena, um demente agente federal limpa o traseiro com uma cópia da Constituição dos Estados Unidos perante dois detidos, mostrando o seu desrespeito pelo documento fundador da organização política do seu país; um desprezo que pode parecer ainda mais chocante devido à função que ele desempenha, mas que no filme surge precisamente como uma desconsideração sintomática. Grande Moca, Meu! A Fuga não é mais político do que o anterior, mas é mais directo. A Aministia Internacional protestou contra o filme dizendo que “Guatanamo não é nenhuma piada”. É uma velha questão esta de esquecer que as comédias podem despertar o riso sem deixarem de ser sérias. [04.02.2010]