The Sweetest Thing (2002)


A Coisa Mais Doce, real. Roger Kumble. EUA, 2002. 35mm, cor, 88 min.

Que pensar da liberal Christina Walters (Cameron Diaz)? No início, alguns homens expõem as feridas afectivas que ela lhes deixou. No fim, Peter Donahue (Thomas Jane) já fala como marido dela. Entre um momento e outro devia dar-se uma transformação na protagonista. O que encontramos é a matriz narrativa das comédias românticas em que um par não se chega a formar e precisa de passar por alguns desencontros e equívocos para que isso aconteça. As personagens femininas, muito à vontade com a discussão da sexualidade, são um efeito da série Sexo e a Cidade (Sex and the City, 1998-), mas falta a Christina, Courtney Jameson (Christina Applegate), e Jane Burns (Selma Blair), um ponto de vista irredutível que redefina o seu ser feminino. As piadas sexuais preenchem o resto — tornaram-se correntes no cinema americano, atacando o politicamente correcto nas indecorosas comédias para adolescentes. A maioria não provoca a surpresa que a canção sobre os tamanhos dos pénis, cantada pelas três amigas num restaurante, desencadeia. O realizador já colaborou com os irmãos Farrelly — há um agradecimento a ele em Doidos por Mary (There’s Something About Mary, 1998) — mas ao contrário deles, não consegue que o seu filme seja um retrato de uma outra América, cuja força reside na verdade das suas obsessões, bizarrias, e excepções. Sem isso, pouco há a assinalar neste conjunto de momentos anedóticos, com uma desatenta mise en scène, montados ignorando o tempo específico dos gags e a sua dinâmica interior. É um filme com uma estrutura casual. Se algo mudasse em cada cena, a significação não se alteraria — como demonstra a montagem final que recupera algumas piadas, juntando-as a imagens de outros takes. [23.03.2010, orig. 07.2002]