The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001)


O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel, real. Peter Jackson. EUA/Nova Zelândia, 2001. 35mm, cor, 178 min., 228 min. (v. alargada).

A primeira parte da adaptação da trilogia escrita por J. R. R. Tolkien apresenta as personagens, a formação da irmandade, e narra uma viagem de acidentes e cisões. Há uma equação de movimento, que envolve a descrição da passagem do tempo e da sucessão de lugares, que o cineasta não conseguiu resolver da forma melhor forma, apenas do modo mais correcto. Em todos os outros aspectos, incluindo a direcção singular de cada cena, o filme responde ao desafio de adaptar esta história tão popular de um modo inesperado — sem tentar ilustrar as palavras e frases escritas pelo romancista, cujo estilo de escrita é, na verdade, mais evocativo do que descritivo. A maior homenagem que este grupo de admiradores podia fazer aos três livros era a de encontrar a essência da história, o coração das personagens, a voz dos lugares; e aceitar que os filmes são diferente dos livros, interpretando-os. Qualquer respeito cego pelos livros conduziria a uma transposição literal, que joga sempre contra a especificidade do cinema, fazendo esquecer também as particularidades da literatura. Pelo contrário, este filme tem algo de primitivo, ligado ao desejo da fisicalidade do seu universo, e utiliza os enquadramentos, movimentos de câmara, iluminação, e outros elementos visuais, de uma forma intensamente expressiva. O desafio foi o de criar e de imaginar a partir da riqueza da origem. A ideia de Peter Jackson parece ter sido não a de erguer este mundo como um produto isolado da imaginação, mágico e distante, mas a de erigir a Terra Média como se existisse — menos como uma mentira da qual duvidássemos, mais como uma verdade na qual acreditássemos. Daí vem a densidade dramática e a grandeza simbólica que permanece do texto para as imagens, com uma grande atenção na caracterização de cada ser e de cada espaço. O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel demonstra um entendimento da maneira como a mitologia dá expressão a conteúdos universais. Como nos ensina o sucesso desta obra, o presente parece ter necessidade disto. [03.04.2010, orig. 01.2003]