The Squid and the Whale (2005)


A Lula e a Baleia, real. Noah Baumbach. EUA, 2005. 35mm, cor, 81 min.

Os Berkman jogam ténis. Devia ser uma diversão, mas transforma-se num jogo maldoso em que a mãe (Laura Linney) é agredida pelas bolas jogadas pelo pai (Jeff Daniels) e pelo filho mais velho (Jesse Eisenberg). A câmara à mão está ao nível das personagens (na cena seguinte, há até um ajuste em que a família é reenquadrada enquanto janta) recusando a ênfase e a manipulação visual. Mas este é realismo acutilante e atento que observa os momentos e os elementos mais quotidianos como componentes capazes de expressar sentimentos e emoções. É assim nesse jogo de abertura, mas a casa estragada de Bernard e os lugares de estacionamento que lhe escapam também têm esse sentido. E é assim até ao fim, quando a imagem do título aparece como emanação de uma memória e símbolo de um medo. O realizador e argumentista Noah Baumbach destaca um pequeno número de gestos afectuosos através da montagem, e tece com delicadeza e concisão esta história habitada por seres profundamente imperfeitos e profundamente humanos. Isso é também o resultado do magnífico trabalho dos actores. Linney compõe Joan, uma mulher melancólica e insegura. Ela sente as marcas da idade ao mesmo tempo que aposta numa carreira como escritora. Daniels interpreta Bernard, um entristecido professor de literatura. É um intelectual petulante que inventa a sua sabedoria para se distinguir e essa invenção determina a sua conduta — como quando se envolve com a sua aluna (Anna Paquin). O ressentimento por não conseguir publicar o seu novo romance é outra fonte de inveja pela vida da ex-mulher. O divórcio do casal tem consequências para os dois rapazes que sublinham problemas já existentes. A construção da identidade e personalidade de Walt foram substituídas por uma imitação e apropriação que tem como modelo a figura paterna, sem se esgotar nela. O pequeno Frank (Owen Kline) é negligenciado na educação e no crescimento, experimentando bebidas alcoólicas e masturbando-se em locais públicos. O humor é muito amargo nesta delicada narrativa situada nos anos 1980, período sinalizado quase apenas pelo vestuário e pela música. [07.07.2011, orig. 06.2006]