The Tree of Life (2011)


A Árvore da Vida, real. Terrence Malick. EUA, 2011. 35mm, DCP, cor, 138 min.

A Árvore da Vida de Terrence Malick, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é uma obra com elementos auto-biográficos que o cineasta tentou concretizar durante anos. Mais uma vez demonstra que o seu cinema está próximo da filosofia existencialista: a existência das suas personagens no mundo é tecida pela introspecção, como diria Søren Kierkegaard. No centro (e nas margens) está o drama de um casal católico com três filhos que perde um deles. A morte deste filho e irmão é o ponto crítico que liga o Jack adulto (Sean Penn), perdido numa cidade de vidro e metal, ao Jack adolescente (Hunter McCracken), justificando a torrente de memórias dos irmãos, do pai (Brad Pitt), confuso e derrotado, em busca de segurança na ambição e na dominação mas também no amor, e da mãe (Jessica Chastain), calorosa e gentil, a equilibrar a severidade do marido. Não há cenas. Há momentos intensos num fluxo de mudança de perspectiva (entre personagens) e de escala (entre o íntimo e o cósmico) que não os separa, revelando-os como inseparáveis. Os ecos da criação habitam estas pessoas e assim, através do que muda, é mostrado o que permanece. A vida em árvore é a vida comum da matéria e do espírito, do corpo e da alma, que faz crescer sempre novos galhos. Esta imagem indicia o interesse pela questão da escolha e da resposta pessoal na vida e na dor. A inspiração narrativa vem do Livro de Job, desmontagem da visão moralista do sofrimento como castigo divino, citado no início através do discurso de Deus sobre a criação. Através dessas palavras, Job, cuja devoção é testada pelo infortúnio, lamentando-se mas mantendo-se confiante na bondade e justiça de Deus, não obtém resposta. Mas vê o que nunca tinha visto. O seu olhar é transformado. É este o percurso de A Árvore da Vida inserido na tradição religiosa cristã. A homilia do padre sobre a história de Job ganha importância porque fala da realidade da adversidade e do entendimento do seu sentido tendo em mente o testemunho de Jesus. Neste filme-oração, alimentado pela fé e pela crença nos poderes do cinema, nada há de bonito, porque nada é adicionado para agradar ao olho e ao ouvido. Pelo contrário, a sua beleza é avassaladora, incessante, porque é ela o coração da obra, colocando-nos em contacto com o mistério esplendoroso das coisas mundanas. A câmara move-se, indagando, atenta aos efeitos dos gestos e das luzes. As vozes reflectem, procurando, muitas vezes murmurando. Tudo nos dá a verdadeira dimensão do acolhimento da graça, não afastando-a da natureza, mas reconhecendo a sua diferença transfiguradora. [12.07.2011, orig. 06.2011]