Mars Attacks! (1996)


Marte Ataca!, real. Tim Burton. EUA, 1996. 35mm, cor, 106 min.

Em Marte Ataca!, os alienígenas fazem para a Terra o sinal internacional dos donuts e eles próprios parecem vindos, não do espaço que circunda o planeta, mas da imaginação. Em vez de mostrar uma luta maniqueísta, o filme procede a uma reciclagem da cultura popular e necessariamente cinematográfica para dela extrair uma vertiginosa ordem onde a guerra de signos oblitera a possibilidade de uma paisagem humana. Em lugar do bem contra o mal, cores investem contra cores, formas contra formas. É, assim, uma obra radicalmente abstracta. Todas as instâncias do poder dos EUA são destruídas, o desfile de estrelas de Hollywood parece interminável e estão lá como símbolos a ser aniquilados ou explorados até ao limite do surreal — Sarah Jessica Parker com cabeça de cão e a sua cabeça a encontrar a de Pierce Brosnan são cenas que Luis Buñuel não desdenharia. E tudo termina num final com um tom niilista. Não é Tim Burton como Ed Wood — dele ficou apenas a paixão que é mostrada no olhar de Johnny Depp em Ed Wood (1994) e alguma imagética. Ao contrário do cinema de Wood, Marte Ataca! é cerebral e propõe um universo visual totalmente pormenorizado. Genial, eis um divertimento demolidor para os EUA, país que por vezes parece sustido apenas por luzes e cores. [07.08.2012, orig. 10.1998]