The Lost World: Jurassic Park (1997)


O Mundo Perdido: Parque Jurássico, real. Steven Spielberg. EUA, 1997. 35mm, cor, 129 min.

O que é uma sequela? Sabendo que a pergunta tem inúmeras respostas, clarifiquemos a questão relativamente a este caso: que sentido faz voltar a Parque Jurássico (Jurassic Park, 1993)? Spielberg olha para o filme anterior, interrogando os seus pressupostos e assumindo o regresso à especificidade do seu universo. Depois do deslumbramento de Parque Jurássico pelas possibilidades de figuração digital dos dinossauros, em O Mundo Perdido: Parque Jurássico o cineasta secundariza o que tinha sido novidade. Investe outra energia na acção — a magnífica cena em que um precipício é enfrentado sobre um vidro que se racha, prestes a estilhaçar-se. Sublinha o duelo entre a natureza transformada e o pesadelo nocturno infantil, sendo a ameaça natural posta em cena com incrível imaginação, rigor, e tensão, como em Tubarão (Jaws, 1975) — há um movimento de câmara que conduz o olhar para a água invadida pelo sangue da vítima que ouvimos gritar. Revê outros filmes do cineasta, perspectivando-os — Pete Postlethwaite encarna um Indiana Jones cansado. Esta obra é, sobretudo, uma grande aposta narrativa. Nesse aspecto, é menos relevante a irrisão rácica dos modelos de ficção colonial que evoca (que Spielberg não evita totalmente) do que a sua estrutura horizontal, oposta ao crescendo vertical que leva a um desenlace final. Tudo comunica com tudo, mantendo a autonomia. Basta reparar no raccord que dissolve um grito num bocejo de Ian Malcolm (Jeff Goldblum) logo no princípio. [03.08.2012, orig. 11.1998]