Lovesong (2001)


Lovesong, real. Stan Brakhage. EUA, 2001. 35mm, cor, 11 min.

Nesta canção de amor cabem todas as convulsões, todas as paixões — uma vida inteira. A pulsão de vitalidade está nas diferenças rítmicas, na imensa variedade de cores e pinturas. As densas figuras estão em conflito, dialogam num tumulto. O movimento tem instantes de pausa, apaziguamento, em que o começo se confunde com o fim, ou em que o fio que os une se quebra. É uma explosão formal que devasta ideias e rejeita a unidade imediata. Ver esta composição é acompanhar a intuição de Brakhage num trabalho íntimo. Quando ele pinta, sobrepõe, monta, a película está nas suas mãos tensas e essa energia é aprisionada no filme para ser libertada em cada projecção. Esta canção de amor é composta por emaranhados complexos no seu embate e vigor. Malhas, crescimento, mudança. Para o cineasta foi a oportunidade, uma das últimas, de visualizar uma relação afectiva e sexual. O cinema pintado de Brahkage é afinal uma arte da experiência. Não depende do que pensamos sobre o mundo, mas depende do mundo, da não separação entre nós e o mundo. Daí que este filme leve a expressividade até ao limite do sensível. [16.06.2015, orig. 09.2005]